quarta-feira, abril 23, 2014

Filhos do 24 de Abril

• João Cardoso Rosas, Memórias, visões e invenções:
    «(…) A segunda visão é dos que esperavam que o 25 de Abril iria instituir um Estado de direito democrático e social, no qual os cidadãos tivessem verdadeiras oportunidades para participar na vida política e condições de vida condignas numa sociedade mais justa. Esta visão era partilhada por muitos, desde Mário Soares a Freitas do Amaral, passando por Sá Carneiro. Foi esta visão que acabou por impor-se. No entanto, a visão vencedora quanto ao significado da revolução de 25 de Abril acabou por ser posta em causa mais recentemente, não tanto por causa da crise e da política de austeridade – que aconteceu já noutras fases -, mas devido à existência, pela primeira vez em 40 anos de regime democrático, de um poder político ideologicamente adverso aos aspectos sociais e mais democráticos de Abril. Por isso inventaram agora um novo sentido para o 25 de Abril.

    Este não teria sido nada daquilo que as duas visões anteriores pensavam. O 25 de Abril serviria apenas para a instauração de um regime liberal-democrático, mas mais liberal do que democrático. Por isso a verdadeira interpretação de Abril é a de um golpe de Estado que deveria ter propiciado uma Constituição mínima, expurgada dos valores da participação democrática e da justiça social que os actuais detentores do poder político consideram “socialistas”, ou mesmo “esquerdistas”. É claro que, se esta interpretação vingar, o 25 de Abril histórico e documentado nunca terá existido.»

2 comentários :

Anónimo disse...

até estou convencido que o poder avençou também o Grande Educador da Classe Operária, pelo excerto que dele ouvi ontem....

james disse...

A parelha mais bonita de sempre: um castrato, outro, com um olho virado para a esquina e outro para a travessa.

A chamada fina flor do Direito, não, do entulho.